Milton Paes
O papel da área financeira vive uma transformação decisiva que redefine o modo como as organizações planejam, tomam decisões e se posicionam diante de um cenário cada vez mais tecnológico e dinâmico. Nesse contexto, o orçamento corporativo deixa de ser apenas um instrumento de controle para se tornar um guia estratégico baseado em dados, agilidade e visão integrada do negócio. Essa foi a tônica do CFO Program – 3º Ciclo da Jornada do CFO do Futuro, realizado pelo IBEF Campinas Interior Paulista em parceria com a Deloitte, com o tema “Orçamento – Uma visão do planejamento financeiro e a atuação de Finanças em 2030”.
Durante o encontro, executivos e especialistas discutiram como a área financeira deve evoluir para um modelo mais preditivo, contínuo e conectado às decisões estratégicas de longo prazo, impulsionado pelo uso avançado de tecnologia, especialmente inteligência artificial e automação.
Finanças integradas ao negócio: o desafio da transformação
Claudio Paixão, sócio da Deloitte, apresentou a visão de Finanças 2030 e destacou que o grande desafio do CFO contemporâneo é romper paradigmas e aderir plenamente às tecnologias já disponíveis. Para ele, o problema não é falta de recursos, mas de mindset. “A gente trouxe a visão de Finanças em 2030, em que Finanças está completamente integrada ao negócio. O grande desafio é o uso correto da tecnologia. Ela já está disponível e tende a avançar ainda mais, mas muitos conceitos usados no dia a dia ainda são antigos”, explicou Paixão.
Segundo ele, a transformação exige não apenas a adoção de novas ferramentas, mas a mudança de processos e de mentalidade para que a área financeira se torne mais prescritiva e capaz de antecipar movimentos do negócio. “Finanças precisa mudar sua forma de visão para que a tecnologia ajude na tomada de decisão. O ideal é visualizar o mês antes de ele acabar, em vez de olhar somente o pós-fechamento”, disse.
O especialista ressaltou que, na visão de 2030, as empresas devem operar com ciclos contínuos, sem orçamentos estáticos de meses de duração. Previsões financeiras automatizadas e executivos mais seniores, profundos conhecedores do negócio e orientados ao diálogo com dados, são elementos essenciais desse novo modelo.
A jornada do CFO do futuro: cinco anos de evolução e relevância
Paulo de Tarso, sócio-líder da Indústria de Consumo da Deloitte nas regiões do interior de São Paulo, Triângulo Mineiro e Centro-Oeste, apresentou a trajetória da Jornada do CFO do Futuro, criada em 2021, no auge da pandemia. Ele relembrou que o propósito inicial do projeto era levar conteúdo relevante para apoiar os executivos que enfrentavam desafios inéditos. “Criamos esse evento em 2021 para contribuir com as pessoas em casa naquele momento, trazendo temas importantes como financiamento, gestão de pessoas e outros desafios da pandemia. Ao longo do tempo, vimos que era necessário dar continuidade à iniciativa e transformamos isso na Jornada do CFO do Futuro”, destacou.
O evento, segundo ele, é voltado essencialmente para CFOs e executivos de finanças que desempenham um papel estratégico nas corporações, como principais aliados do CEO e ponte entre áreas de negócio e decisões críticas da companhia.
Desde 2023, os encontros passaram a ser presenciais, realizados bimestralmente, com de 5 a 6 reuniões anuais, sempre com conteúdos de alta relevância técnica e estratégica.
Reforma Tributária e IA: os grandes temas de 2026
O ano de 2026 será marcado por dois temas centrais nos encontros da Jornada: a implantação da Reforma Tributária e o avanço da Inteligência Artificial nas empresas — assuntos que, segundo Paulo de Tarso, continuarão prioritários na mesa dos CFOs. “A Reforma Tributária teve um movimento importante em 2025, de preparação das empresas. Em 2026, será o ano de focar nos impactos reais dos tributos, analisar decisões logísticas e estratégicas e entender onde faz sentido localizar estruturas e operações”, avaliou.
Ele enfatizou que setores como o de bens de consumo, altamente distribuídos pelo território nacional, deverão revisitar seus modelos operacionais devido ao fim de incentivos fiscais e à nova dinâmica de consumo e produção.
Sobre tecnologia, Paulo de Tarso apontou que o desafio vai além da adoção da IA — envolve mensurar valor e impacto. “As empresas perguntam: ‘Está bom, IA, mas o que isso me traz de benefício? Qual é o payback?’ Nosso trabalho tem sido apoiar no entendimento prático, mapeando cases de sucesso e aplicações reais que tragam resultados concretos”, afirmou.
Convite aos executivos de finanças da região
Encerrando sua participação, Paulo de Tarso reforçou a importância do IBEF Campinas como espaço de conexão, atualização e troca estratégica entre CFOs e demais executivos financeiros. “Quero convidar os CFOs da região a conhecerem e integrarem o IBEF. Temos uma região muito rica, com empresas relevantes e executivos com conhecimento valioso. O IBEF é um ótimo ambiente de troca e de protagonismo para os profissionais de finanças”, concluiu.